Senhor de uma técnica apurada, designer original e subtil, abre-nos as portas de uma mundivisão surreal de onirismo imprevisto que, alheia a pontos cardeais, se situa entre o sonho e a alucinação conscientemente provocada, na senda de Salvador Dali. Deixando de lado a descrição das imagens, a simbiose dos reinos animal e vegetal, apenas queremos realçar a sensação de silêncio e imobilidade intemporal comunicada ao espectador.
Enaltecida a técnica, a componente formal, como avaliar o conteúdo estético transmissível? Quanto a nós, o autor conseguiu criar um mundo de insólito, panteísmo o qual constitui inegavelmente verdadeira novidade artística, própria do surrealismo. Se a beleza clássica poderá estar em causa, premissa há muito abandonada, há que admitir que o bom prevalece sobre o belo. E a obra de Fernando Dôres é boa, mesmo muito boa.